Concessionárias roubam nos preços da manutenção e das peças dos carros?

Será que os preços praticados pelas concessionárias são mesmo exorbitantes? Saiba que você pode estar enganado

 

Eduardo Martins

 

Acompanho alguns fóruns, grupos de whatsapp e até comentários de vídeos onde algumas pessoas, muito mal informadas, sugerem que concessionárias enganam os donos de veículos com preço exorbitantes, chegando ao extremo de dizer que “roubam descaradamente”.

Esse tipo de comentário não é algo novo, e há muito tempo observo que a falta de conhecimento do assunto acaba provocando este tipo de confusão.

Vou tentar abordar esse assunto por tópicos, como alguém que trabalhou em quatro fabricantes de veículos e numa empresa que fabricava peças para todos os fabricantes de automóveis nacionais e até alguns modelos de fora.
Também, como empresário na área de equipamentos e serviços industriais e advogado, me sinto mais à vontade de falar sobre esse assunto, sem qualquer interesse comercial ou pessoal.

A ideia aqui não é defender as concessionárias. Não tenho vínculos com nenhuma e nem atuo nesse segmento, mas vou tentar afastar um pouco muitas bobagens que dizem por aí.

1. Meu mecânico de confiança multimarcas é tão bom ou melhor que uma concessionária

O vínculo criado com o mecânico particular normalmente é maior que o de uma oficina autorizada grande, e a aproximação e amizade acabam sendo proporcionais.
Mas, não se engane quanto ao nivelamento entre as duas oficinas e os seus profissionais.

O grau de especialização do profissional de uma concessionária autorizada é muito maior. Eles frequentam cursos, treinamentos diversos, e são constantemente atualizados pelos boletins técnicos e apostilas fornecidas pela fábrica da marca.
Como o nosso blog é sobre a Frontier, vou usar esse modelo como exemplo.

Na concessionária de Jundiaí, onde levo as minhas Frontier para revisão, eles agendam uma média de até 6 Frontier por dia para revisões e manutenções de rotina, ou até mais.
Há uma intimidade maior do mecânico com o modelo do que o profissional “conhecido” que às vezes recebe uma ou duas unidades deste modelo por mês, quando recebe alguma.

Muitas vezes você leva um veículo de uma marca na concessionária e diz: “estou com um problema de alguns engasgos quando o motor está muito quente”, por exemplo. Então, o mecânico olha para você e diz: “isso é normal desse carro… é só fazer um ajuste na central”.
Porque ele já te diz isso? Porque já pegou várias unidades com o mesmo problema, porque já circulou um boletim técnico sobre essa ocorrência e isso não é mais novidade para ele.
Numa oficina não autorizada, o mecânico pode te dizer para deixar o carro para ele testar e procurar o problema, muitas vezes desmontando ou trocando peças desnecessárias, e até nem sequer achar o problema.

Nos nossos grupos de Frontier, já vimos até oficina instalando trava automática de portas na nova Frontier Argentina, quando na verdade o modelo já tem essa opção no seu “menu secreto”, desativado de fábrica mas que basta solicitar que em poucos segundos eles ativam para você, sem cobrar nada por isso.
Aí, o sujeito sem saber que essa opção já existia, e que pagou até R$ 500,00 para instalação do módulo na oficina de confiança, vai dizer que foi “esperto”, que na autorizada esse módulo custaria uns R$ 1.000,00 !!!

Muitas vezes o profissional que instalou o módulo nem tem muita culpa, porque ele realmente não dispõe de informações completas do modelo, treinamento, desenhos técnicos, manuais de serviço e canal direto com a engenharia da fábrica. Aí complica mesmo. Nem sempre se trata de má fé, sem descartar essa possibilidade.
O profissional de uma autorizada não precisa “descobrir” ou “entender” as coisas, ele já tem essas informações lá, inclusive desenho, roteiros, instruções, etc.

Muitos outros serviços sofrem da mesma situação. A especialização é um diferencial importante para um trabalho limpo, objetivo, e mais confiável e eficaz.

2. As peças na concessionária autorizada são mais caras

Essa é outra velha reclamação que faz pouco sentido, e eu domino bem esse assunto porque trabalhei numa empresa americana no desenvolvimento e fabricação de peças para vários fabricantes de veículos, e também  para o mercado de reposição (lojas de auto-peças).

A empresa que trabalhei fornecia para a Ford, GM, Volkswagen, Fiat, etc… e as peças que iam para estas fábricas ou para as concessionárias tinham especificações de funcionamento e de qualidade muito mais rígidas. Os lotes eram testados por amostragem no recebimento, e se não atingissem as especificações exigidas eram devolvidos, e a empresa poderia ser até desqualificada como fornecedora.
Óbvio que a loja de auto-peças vai apenas colocar as peças recebidas na prateleira e acreditar que estão de acordo.
Mas, trata-se mesmo de produtos com igual qualidade?

Muitas vezes até ouço dizer que o componente é da mesma marca que o original, então “não tem erro”. Tem sim, para a surpresa e decepção de alguns.

O mercado de reposição (auto-peças) é mais competitivo. Normalmente uma peça da montadora é de uma marca aprovada para fornecimento depois de atender inúmeras exigências e padrões internacionais de qualidade. Mas, o mercado de reposição é cheio de concorrentes que atuam somente nesse mercado, com produtos inferiores, com tecnologia também inferior, e com preços bem mais baixos.
Assim, o fabricante das peças originais acaba encontrando um mercado menos favorável para um produto de alto nível de exigência, e claro que ele quer participar também desse mercado.
A solução é desenvolver um trabalho de redução de custos para que o preço da peça seja mais competitivo.

Alguns fabricantes sérios até criam outra marca, para a “segunda linha”, que são produtos inferiores que não podem, pela sua baixa qualidade, comprometer o respeito e a confiança da marca principal.
Muitas vezes o mercado, sem saber o porquê dessa atitude, ainda diz que a segunda marca é do mesmo fabricante, portanto, tem a mesma qualidade.

Pequenos detalhes influenciam o preço de uma peça, e são esses detalhes, muitas vezes pouco perceptíveis pelo consumidor, que fazem as maiores diferenças. Vou citar alguns exemplos onde trabalhei diretamente e outros bem conhecidos do consumidor que não havia percebido ainda.

a) Tratamento superficial

Peças metálicas recebem um tratamento superficial para não sofrer corrosão. E não falo só em chaparias como partes da carroceria, piso, rodas e outros componentes mais óbvios e visíveis, mas também de componentes com que tive mais contato, como relés de acionamento do motor de partida, soquetes, suportes metálicos, etc…
A proteção destas peças é feita na maioria das vezes através de um processo de galvanização, e não pintura.
Depois do processo de estampagem e galvanização, a peça sofre um ensaio de resistência à corrosão, conhecido como teste de Salt-Spray, onde a peça é pendurada num tanque que recebe continuamente uma névoa de uma substância salina corrosiva. De acordo com a especificação exigida, a peça deve ficar 24, 48 ou 72 horas nessa solução, ou até muito mais tempo dependendo da especificação. Depois disso a peça é retirada e examinada quanto ao surgimento de sinais de corrosão.
E aí surgem as primeiras diferenças.

As peças estampadas, já muitas vezes mais finas que as originais, recebem uma espessura de camada de proteção normalmente bem maior quando ela é fornecida ao fabricante do veículo ou às suas autorizadas.
O fabricante não quer ver uma peça enferrujada depois de alguns poucos anos de uso, e sabe que em regiões litorâneas o problema de corrosão é muito maior.
Já a peça fornecida para o mercado de reposição recebe um banho muito mais fino e irregular, para pelo menos não enferrujar na prateleira (muitas vezes a peça já sai da embalagem com pontos de ferrugem).
Já vi peças simplesmente untadas de óleo para não oxidar durante o estoque na loja.

b) Qualidade de contatos elétricos

Relés e chaves, amplamente utilizadas na parte elétrica dos automóveis, também sofrem redução de custos. Recebem componentes internos de qualidade inferior, e até os contatos elétricos, que é o ponto mais crítico por sofrer mais desgaste, faiscamento e aquecimento, são diferenciados.
O fabricante chega a exigir contatos de prata com boa área de contato para longa durabilidade e confiabilidade, e aquelas peças que vão para o mercado de reposição possuem contatos de cobre e até de latão, bem menores, muito mais baratos, porém menos duráveis e mais sujeitos a falhas.

c) Material de vedação

O interruptor de pressão de óleo, conhecido popularmente como “cebolinha de óleo”, é um componente que tem por fim monitorar a pressão do óleo do motor, que se não estiver de acordo, pode até fundir partes do motor.
Os fabricantes de veículos muitas vezes pedem que o fechamento da peça utilize material de vedação da alta qualidade, como o teflon, por exemplo, que suporta altas temperaturas e apresenta boa vedação com longa durabilidade, não sendo afetado por produtos químicos e outros reagentes externos.
As peças que seguem para o mercado de reposição podem possuir vedação em plástico comum, até reciclado de baixa qualidade, ou outros materiais ainda mais frágeis.
Neste caso, uma falha nessa peça pode até danificar o motor.

d) Precisão de funcionamento

Voltando ao interruptor de óleo, os fabricantes de veículos especificam a faixa de pressão de atuação do sensor, ou seja, quando a luz vermelha deve acender no painel indicando que a pressão está abaixo da recomendada por segurança.
As peças de reposição não sofrem muito com essa preocupação. A luz do painel se apagando, muitas vezes basta para o consumidor ficar feliz e acreditar que a peça está cumprindo o seu papel, o que não é verdade.

e) Qualidade do plástico empregado

Você já notou a quantidade de lanternas de carros, ou mesmo faróis de plástico que tem coloração alterada? O vermelho ficou laranja, o amarelo desbotou, a transparência sumiu e a peça ficou fosca, ou ela até mesmo trinca e se torna quebradiça?
Podemos ver isso do dia a dia no trânsito. O carro à nossa frente possui uma lanterna perfeita, mas a outra parece velha, de tão prejudicada que já se encontra.
Pode estar certo de que a peça desgastada não é original.

Normalmente partes plásticas utilizadas em automóveis usam matéria-prima pura, não reciclada, e possuem tratamento contra UV, ou seja, não são prejudicadas pelos raios solares.
As peças de reposição não possuem esses cuidados, e depois de até seis meses podem começar a apresentar problemas, mas, até aí… a garantia já se foi, ou você não se lembra onde guardou a nota-fiscal, se é que eles te forneceram uma.

Outros componentes plásticos, além da questão estética, oferecem um risco maior, pois deveriam ser fabricados com aditivo ou materiais antichama, mas para o mercado de reposição esse cuidado não é observado.

f) Lotes reprovados pelos fabricantes

Muitas vezes pode acontecer também da peça fornecida ao fabricante de carros ser rejeitada pelo seu Controle de Qualidade, pois ela possui alguma não conformidade, ou seja, está fora da faixa de qualidade exigida. Estas peças rejeitadas pelo fabricante podem acabar caindo no mercado de reposição, já que o consumidor provavelmente não identificará o problema com os recursos e o conhecimento que possui.

g) Peças falsificadas

É comum vermos lotes de peças serem apreendidos pela polícia. Normalmente tratam-se de peças de qualidade ruim, que podem até colocar em risco a vida dos ocupantes dos veículos, mas que recebem marcação e caixinhas com marcas estampadas de renome.
São produtos falsificados que estão em muitas prateleiras de loja ou mesmo já instaladas em muitos carros.

Muitas vezes vemos colegas comentando que pneus, lâmpadas, baterias e outros componentes adquiridos no mercado de reposição, mesmo da marca original, duram menos que aqueles que vêm no carro… porque será?

h) Garantia dos componentes

Esse é um ponto importante, e merece mais atenção agora que algumas oficinas estão trabalhando com um regime diferenciado, onde o consumidor compra a peça que quiser, onde desejar, e a oficina apenas cobra a instalação. O que pode parecer uma ideia genial para reduzir gastos, é na verdade uma armadilha muito perigosa para o consumidor.

Imagine que uma peça do seu carro apresente um problema. Você ou o mecânico adquirem essa peça no mercado paralelo, de um fabricante que não oferece boa qualidade.
A peça é então instalada e em seguida apresenta problemas.
Seu mecânico vai dizer que a peça não presta, e o vendedor ou fabricante da peça vai dizer que o instalador não a instalou corretamente e que isso danificou a peça. E então, quem paga o novo conserto?
E se a falha provocar um dano ainda maior no veículo, fundindo o seu motor, causando um acidente ou até mesmo ocasionando um incêndio.
Quem vai assumir a responsabilidade disso?

Já a concessionária é responsável pela qualidade, pela aplicação e pelas consequências do uso da peça. Ou seja, um fabricante sério lhe dará garantia e assistência necessárias para a sua tranquilidade.

i) Estoque da peça

Esse é um ponto que deve ser colocado aqui, e é bastante importante.

Já vimos casos onde o consumidor diz que encontrou na loja da esquina a mesma peça da concessionária, com o selo do fabricante do carro de peça homologada, por um preço muito menor que na concessionária. Então seria esse um exemplo claro de má fé?

Veja que muitas peças de carros hoje são importadas, e a concessionária vai atualizar o preço dessas peças pela variação cambial. Ela não pode vender uma peça por 100 reais que vai lhe custar 200 para repor.
O balconista da loja não se preocupará com isso, e então pode ter um estoque muito antigo, com preço defasado. Assim, não é a concessionária que está cometendo um erro, mas o lojista.

Outras peças são fora de linha, e a fábrica acaba pagando caro para produzir pequenas quantidades para as lojas. Neste caso, o lojista com uma peça de estoque antigo pode ter um preço menor.

Mas, perceba, estamos falando de peças originais, não de similares.
Muitas vezes o lojista diz: “é a mesma peça, olha o código, é igual, até o fabricante é o mesmo”. Não caia nessa. As peças não são realmente iguais, pode estar certo disso.

3. Serviços de concessionárias são mais caros

Novamente, será que as concessionárias exploram os consumidores?

Lembremos-nos do que já foi comentado aqui sobre a instalação do módulo de travamento de portas, que oficinas paralelas cobram por algo que a Frontier já tem e só precisa ser ativado. Aqui mesmo, em nosso blog, ensinamos como fazer isso em casa em segundos, e obtendo  mais recursos que os módulos tradicionais oferecem.

Já falamos do custo de qualificação da mão de obra técnica, da especialização, mas temos outros fatores além desses.
Os funcionários de uma concessionária são majoritariamente registrados, recebem uniformes de qualidade, equipamentos de proteção e mais recursos para o seu pleno trabalho, recebem férias, muitas vezes possuem benefícios como convênio médico, cestas básicas e outros.
A concessionária recolhe os encargos sociais e paga os devidos impostos.
Você tem departamentos de peças, estoque, pessoal de caixa, consultores técnicos especializados, chefes de oficina, gerentes e toda uma estrutura profissional.
Isso é muito diferente de uma estrutura amadora e familiar, onde o dono é o mecânico, a esposa fica no caixa (quando existe) e o filho fica no telefone comprando peças paralelas.

Além disso, muitas oficinas não possuem uma limpeza adequada, parecendo até um depósito de sucata. Você não vai ver isso numa concessionária, onde funcionários de limpeza e organização mantêm a oficina limpa, os banheiros higienizados e escritórios também muito bem apresentáveis.

Você também não vai ver numa concessionária o mecânico procurando onde deixou uma ferramenta ou onde guardou uma peça que foi retirada do carro. Organização e limpeza de concessionárias são exigências que, se não cumpridas, pode até resultar na perda da concessão. As fábricas mantêm engenheiros e fiscais visitando constantemente as concessionárias, verificando organização, capacidade técnica dos funcionários, limpeza, iluminação (algumas oficinas paralelas nos fazem pensar como o mecânico consegue enxergar o que está fazendo de tão escuras que são), verificando ainda a segurança dos colaboradores e se a documentação técnica está disponível e sendo consultada.
Óbvio que isso também tem um custo para o consumidor, mas os benefícios compensam.

A estrutura de uma concessionária é mais cara para ser mantida, mas oferecem um nível de qualidade muito maior.

Outra questão está na parte documental e fiscal.
Todos os serviços feitos num veículo são registrados em seu prontuário. É fácil consultar o que foi feito, o que foi trocado e obter orientações sobre novos cuidados.
Para todos os serviços e peças são fornecidas as respectivas notas fiscais, ou seja, as concessionárias pagam mais impostos por conta de atender a legislação fiscal e dar mais garantia aos consumidores.

4. Omissão de correções e recalls

Quando um veículo entra numa concessionária, o seu número de chassis já é consultado. Esse procedimento é importante para verificar eventuais chamadas de recall, ou mesmo ajustes técnicos que fazem parte de boletins técnicos emitidos periodicamente pela fábrica.
Oficinas particulares normalmente não se preocupam com isso, ou mesmo sequer tem qualquer acesso a esse tipo de informação.

Muitas vezes um barulhinho que o seu mecânico de confiança conserta baratinho, faz parte de uma correção gratuita oferecida pelo fabricante.
Outras vezes a concessionária, com a orientação da fábrica, substitui uma peça que sabe que vai apresentar problemas com o tempo, sem custos e às vezes sem que você sequer fique sabendo.
Quando voltar à concessionária, peça o prontuários de seu carro. Ficará surpreso com o conteúdo desse documento e com o histórico detalhado da vida do carro.

Um caso já conhecido foi de uma moça que durante a condução de seu carro, com mais de 10 anos de uso, teve o eixo da roda quebrado, com consequências como danos na lataria e no para-choques, estouro do pneu, amassamento da roda e outros.
Ela consultou um mecânico de uma oficina conhecida, e o preço ficou quase a metade do que valia o carro na época.
Lhe foi dada a sugestão de consultar uma concessionária, pois era um serviço grande e de muita responsabilidade. Ela relutou a princípio, porque achava que o preço seria ainda maior, mas acabou levando o carro na concessionária.
O consultor técnico lhe atendeu, abriu um chamado e pediu para um mecânico avaliar o que tinha acontecido.
Para o seu espanto, o consultor lhe chamou e lhe disse que aquele modelo de veículo, naquele ano, pertencia a uma série com uma falha no eixo da roda, que isto foi noticiado e os compradores comunicados. Como a proprietária havia se mudado de endereço e telefone, não ficou sabendo, e nem tomou conhecimento dos anúncios públicos.
E, por conta desse erro do fabricante, o veículo seria reparado sem custo, inclusive todos os demais danos causados pela falha, incluindo roda, pneu, funilaria, etc. Ou seja, a o carro foi consertado de graça, e não precisou gastar a pequena fortuna pedida pela oficina particular.

Ainda hoje muitos veículos circulam com os famosos airbags assassinos. Trata-se um lote de peças que foi fornecido a diversos fabricantes de veículos que, num caso de acidente, projetaria partes metálicas contra motorista e passageiros, o que já provocou até mortes pelo mundo todo.
Ao levar o seu carro numa concessionária, se o seu modelo estiver incluído entre aqueles com o problema, você será imediatamente orientado a fazer a substituição totalmente gratuita da peça. Dificilmente você será informado sobre isso numa oficina particular. Imagine o risco disso.

5. Revisões

No caso das revisões periódicas dos veículos, temos outra situação que merece ser comentada aqui.
Há um roteiro de revisão, que são itens de manutenção e inspeção que são realizados através de um plano preventivo.
Além da questão de ajustes técnicos e recalls que citei anteriormente, as concessionárias fazem uma série de ajustes, inspeções e verificações no veículo, para garantir maior durabilidade, tranquilidade e segurança.
Uma revisão numa oficina particular muitas vezes não passa de uma troca de filtros e óleo. E isso não é nada bom.
Nas revisões das concessionárias Nissan, no nosso caso, elas oferecem, por exemplo, um serviço de lubrificação de maçanetas, dobradiças e trincos. Dependendo do uso da caminhonete, esses componentes podem se desgastar, travar ou mesmo quebrar. E não pense que basta um spray de óleo fino e você faz isso em casa. São produtos específicos, com óleos de diferentes viscosidades dependendo do local de aplicação, graxas e outros lubrificantes específicos.
Se a tampa da caçamba travar, e já vimos isso acontecer em nossos grupos de proprietários, a oficina da esquina pode até danificar as peças e a lataria para abrir a tampa, e o problema é todo seu. Mas, se isso acontecer num veículo cuidado pela concessionária, a preocupação e os custos são todos dela.

6. Ferramental e equipamentos apropriados

Além das orientações técnicas para realizar os serviços, o fabricante fornece o ferramental necessários para a sua realização com toda a segurança e eficiência.
Nada desse negócio de ficar enfiando chaves de fendas em brechas de plásticos para tentar achar travas, quebrar partes tentando descobrir como desmontá-las, etc.
Além disso, as oficinas particulares têm limitações de ferramental, e acabam usando ferramentas inapropriadas para os trabalhos, danificando mais peças do carro.
Já vimos uma caixa de “central eletrônica” colada com silicone porque o mecânico não conseguiu descobrir como abrí-la, e quebrou as travas da tampa.

Concessionárias possuem computadores atualizados que avaliam todas as funções do carro, verificam até problemas ocorridos que muitas vezes o dono nem percebeu, checam pressões de trabalho, funcionamento de válvulas e muitos outros itens.
A maioria das oficinas tem um modelo “faz tudo”, mas que na verdade é pouco abrangente, pois não tem todas as características de todos os modelos de carros existentes, não recebem atualizações, e para muitas informações os mecânicos não possuem as especificações originais, ou não sabem interpretá-las.
Sabemos que existem oficinas sérias com mecânicos honestos e de boas intenções, mas há uma grande limitação técnica que, infelizmente, eles não conseguem superá-las.

7. Decisões equivocadas

Pela falta de informação adequada, falta de treinamento e conhecimento técnico específico e atualizado do modelo e da marca, muitos profissionais de oficinas particulares cometem erros graves, que podem culminar até em morte.
Um exemplo muito comum é a recomendação ou o serviço de eliminação da válvula EGR ou do filtro de partículas dos veículos. Temos um artigo completo publicado aqui sobre isso.
Você nunca verá uma concessionária recomendando ou realizando esse serviço criminoso.

Além disso, você sempre receberá da concessionária orientações importantes e precisas sobre o uso e a conservação de seu veículo, garantindo que ele funcione por muito mais tempo sem apresentar problemas.

8. Garantia do veículo

Todo veículo possui uma garantia de fábrica, que pode ser de 1 ano, 2 anos, 3 ou mais.

Uma das condições para que essa garantia tenha validade é fazer as revisões em concessionárias. Apesar do que os mais ingênuos imaginam, isso não é uma forma disfarçada de venda casada, como já li alguns malucos dizerem.
Basta ler o que já foi dito aqui.
Todo veículo precisa seguir um plano de manutenção, com serviços adequados, corretos e periódicos para que suas partes tenham uma vida útil longa e livre de falhas, e normalmente não é isso o que acontece quando a manutenção é feita fora da rede autorizada.
Há casos que a troca de óleo é feita muito depois do tempo recomendado, ou componentes com especificações incorretas ou de baixa qualidade são usados, e causam prejuízos graves aos veículos.
Já vimos em nossos grupos casos de filtro de óleo ou de ar incorretos, e até de óleo lubrificante do motor inadequado, que provocou danos que não foram cobertos em garantia.
Radiadores furam com o tempo por falta de aditivo correto para evitar a sua corrosão.

9. Atendimento em cortesia

Muitos fabricantes sérios mantém uma verba disponível para atendimentos em cortesia para, por exemplo, quando uma peça que deveria durar anos quebra logo após a sua garantia.
A fábrica reconhece que o dono do veículo seguiu todas as recomendações de uso e cuidados que a fábrica exigiu, fez todas as revisões corretamente e nos prazos certos, e, assim, resolve fornecer a peça e até a mão de obra gratuitamente ao consumidor, como cortesia.

Eu mesmo passei por uma situação dessas.
O volante da minha primeira Frontier, mais básica, tinha um revestimento emborrachado. Por eu ter maior acidez nas mãos e muitas vezes tocar o volante depois de ter mexido com produtos químicos, este revestimento restou desmanchado.
Como a garantia da caminhonete já havia acabado há quase dois anos, eu fui até à  concessionária encomendar um volante novo.
O consultou viu o problema e foi conversar com o seu supervisor.
Ele me pediu para aguardar até o dia seguinte, quando um engenheiro da fábrica, do setor de garantia, passaria lá e poderia, quem sabe, liberar a peça em cortesia, já que eu sempre fazia as revisões lá. A boa notícia acabou se confirmando, e ganhei, não só um volante novo, como o serviço de troca em garantia, e ainda com a vantagem de ser uma peça original de fábrica.

Pela fidelidade nas revisões (faço todas as revisões em concessionária não importa a quilometragem do veículo), já ganhei até revisão em cortesia, tapetes, carro emprestado, descontos na troca e outros agrados.

Mas isso foi com a Nissan, pois sabemos que uma montadora americana que fechou no Brasil tem o hábito de negar até garantia com a desculpa de mau uso do veículo, de combustível ruim, etc., quando já são de conhecimento público os problemas crônicos dos seus modelos.

10. Conclusão

Estas são só algumas abordagens para ao final refazermos a pergunta título desse artigo.
Será que os preços cobrados por uma concessionária são realmente “um roubo”?
Pense nisso.
Temos duas realidades diferentes, situações distintas, e simplesmente não dá para comparar uma coisa com a outra sem observar toda a situação com mais cuidado, e o “barato” pode estar lhe saindo caro, e poderá lhe custar muito mais caro ainda, dependendo das circunstâncias.

Não há o “crime de roubo” como alguns costumam dizer.

 

* Não pretendemos aqui desmerecer o trabalho feito pelas boas oficinas particulares com profissionais sérios e competentes, mas apenas mostrar que cada modalidade cobra pelo que oferece.

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