A Situação da Ford no Brasil

Uma avaliação de mercado da Ford depois de um ano e meio do fechamento das suas fábricas no Brasil.

Por: Eduardo Martins

Fechamento da ford no brasil

Em 11 de Janeiro de 2021 a Ford encerrava a produção de veículos no Brasil, e em 9 de Agosto do mesmo ano a Ford anunciava o fechamento da Troller.
O fim das duas montadoras havia sido negado pela fabricante americana, mas acabou acontecendo sob grande surpresa e decepção dos clientes das duas marcas.

Era um fechamento que tinha sinais sutis de previsão, já que a Ford nitidamente tinha um investimento morno no Brasil, apesar de todos os incentivos governamentais.
Mas, mesmo esperado por alguns, a crise gerada pelo desemprego, pelo abalo das economias locais, pelos danos causados às empresas terceirizadas e fornecedores de peças, e à sua própria rede de autorizadas foi muito grande. Mais da metade das concessionárias Ford já fechou, e é comum sabermos de novas unidades que tentam lutar contra a falência sem sucesso.

Essa movimentação da fabricante americana não foi uma novidade, já que se repetiu em vários outros países pelo mundo.

A Ford anunciou que isso fazia parte de uma decisão estratégica de mercado, e que pretendia focar os seus negócios em outras categorias de veículos, segundo ela, do segmento “premium”.

A estratégia acabou se mostrando muito estranha, já que o que vimos acontecer foi bem diferente do anunciado. A montadora passou a divulgar e a tentar despejar no mercado modelos como o chinês Territory, o Bronco, a velha Ranger sem as novidades que já há algum tempo equipava os modelos americanos, a van uruguaia Transit fabricada numa terceirizada e mais recentemente o mexicano Maverick.
Difícil entender onde está o conceito de “premium” neste grupo, já que as marcas de veículos verdadeiramente premium no Brasil não se viram ameaçadas em nenhum momento por esses modelos.

As previsões do fabricante não se confirmaram. Os modelos chegaram aqui com vendas muito abaixo do esperado, e em alguns casos tiveram que ter o preço reduzido, ou ainda que serem distribuídos para o próprio serviço de assinatura da marca, uma espécie de locação com opção de compra.
O Territory não chegou perto das vendas previstas e não ameaçou os fabricantes e importadores locais. O Bronco, mesmo com toda a receptividade da imprensa e o fechamento da (concorrente) Troller, também não teve o volume de vendas esperado, nem perto do que se imaginava e ainda tem os seus números de emplacamento em queda. A van Transit ficou oscilando entre 3 e 6 unidades emplacadas mensalmente, enquanto os seu concorrentes diretos despejam perto de 3.000 unidades por mês no mercado. O Maverick, aposta para concorrer com a Toro, sequer fez cócegas ao concorrente, se mantendo numa faixa de emplacamentos de 176 unidades mensais contra 5.287 unidades emplacadas pelo concorrente (Fonte: Fenabrave Maio/2022). E o Maverick ainda terá em breve a companhia da Montana da GM, quase saindo do forno, uma concorrente que promete muito e que está firmemente estabelecido em nosso mercado.
Até as vendas do seu esportivo Mustang sofreram fortes quedas, passando das 106 unidades emplacadas em dezembro passado para as 5 unidades atuais.

Emplacamentos Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
Mustang 106 48 21 18 11 5

A crise econômica do mercado não pode justificar tal queda, visto que a Porsche, por sua vez, cresceu no período, saltando de 44 para 86 unidades emplacadas no Brasil.

A Ranger, que já chegou a ser a caminhonete média mais vendida no Brasil, vê a sua concorrente L200 ultrapassando as suas vendas em 2022, além de ter a Frontier tão perto de suas vendas como nunca esteve, sendo que as vendas da Frontier batem recordes de vendas. A Ranger não tem apresentado números de vendas animadores.

Tudo isso contribuiu para a queda da Ford no ranking de vendas gerais, que se viu despencando do lugar em Dezembro de 2020 para o 14º lugar em Junho (Fonte: Fenabrave). Curiosamente, modelos mais premium, e não premium superaram as suas vendas, de fabricantes como a Toyota, Renault, Jeep, Nissan, Peugeot, Honda, Mitsubishi, Citroen, e até a Caoa, e já sendo ameaçada até pela BMW.

A desconfiança do mercado, o desapontamento pelo desemprego, o abandono e pelos danos aqui causados, e a disponibilidade de opções de fabricantes instalados aqui contribuíram para essa queda. É nítido nas redes sociais o fato de que muitos consumidores rejeitam a marca.
Além disso, o fechamento de concessionárias reduz o poder de penetração da marca e preocupa consumidores com relação ao deslocamento para uma simples revisão, uma reclamação que já vem se tornando muito comum.

A falta de peças é outra queixa bastante presente. Depois do seu fechamento, funcionários foram convocados para voltar as atividades para a produção de peças de reposição para os modelos fabricados aqui, mas esse pedido não foi atendido, e o mercado reclama da falta de componentes para manutenção dos carros da marca.

“A saída da Ford do Brasil, impactou diretamente a grande malha de trabalhadores que operavam nestas fábricas, ao todo são mais de 5,3 mil funcionários somente na cidade de Camaçari na Bahia. Além da perda de seus empregos, o BNDES exige da montadora explicações plausíveis por ter abandonado projetos sociais que estavam em andamento, e dois empréstimos vigentes. Até o momento da emissão desta matéria a Ford não havia se pronunciado.” 

Ranking-vendas-nissan-frontier-2022
Crescimento das principais marcas que fabricam caminhonetes entre Abril/Maio de 2022 (Fonte: Fenabrave) Em vermelho, queda, em laranja, estabilização, e em verde, crescimento.

A Ford é uma grande dúvida no mercado brasileiro e até latino de forma geral, senão mesmo mundial. Com essa desconfiança, e com a economia sempre desandada, o consumidor prefere investir em outras opções mais seguras, e essa dúvida acaba crescendo ainda mais.
A impressão que temos é que nem a Ford sabe o que irá acontecer, já que as suas próprias previsões não estão se mostrando muito acertadas.
Pessoalmente, eu acredito que mesmo a Ranger, que é o seu carro-chefe de vendas, mesmo que remodelada, pode ter um pico de vendas e cair após o efeito novidade, pois o mercado vai ter muitas outras opções e não deve optar por uma marca tão instável no Brasil.

Vamos aguardar e ver os próximos passos dessa novela.

2 Comentários

  1. Excelente reflexão sobre a situação da Ford. Penso da mesma forma. Já fui fã de carros Ford, tive vários modelos, mas ultimamente eu andava muito decepcionado com a marca. Com o fechamento no Brasil, me afastei de vez da marca.

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