Uma Frontier preparada para uso off-road leve, mas que se mostrou capaz de bem mais do que isso.
Quem mora na capital de São Paulo ou em qualquer outra cidade grande, com trânsito enlouquecedor, já pensou em ter um carro que voasse ou que passasse por cima de tudo. Eu mesmo já pensei isso inúmeras vezes, mesmo porque ninguém merece ficar metade da vida parado num engarrafamento. Quando assumi a direção dessa Nissan Frontier, em plena Marginal Pinheiros, adivinha qual pensamento me veio à cabeça? Com a picape de pneus enormes, naquela altura, a vontade de passar sobre o guard-rail e costurar pela margem do rio estava me torturando. Tomei uma água, chacoalhei a cabeça e voltei à realidade. Foi então que surgiu o convite para andar com ela na terra…
Aquela frustração de não ter cortado o trânsito pelo rio foi compensada num terreno despavimentado, similar às ruas da capital, inclusive. Lá, a picape fez misérias! Como se estivesse em um asfalto liso, sem obstáculos, ela atropelou todos os morros e crateras com a maior facilidade do mundo. “Giu, joga ela nesse buraco aí do lado”, pedia o editor e fotógrafo João Mantovani. Eu, todo felizão, descia aquela pirambeira com vontade, a fim de testar os limites da nova configuração da Frontier, preparada no Galpão Fullpower.
A tal facilidade do carro em transpor os obstáculos é mérito da tração 4×4 e, sem dúvida, dos upgrades de suspensão, feitos por Emerson “Gordo” Soares e Sérgio Albuquerque, da paulistana Impacto Especiais. A empresa, nesse caso, foi responsável principalmente por cortar a laser os componentes de aço. “Nos EUA há conjuntos prontos para levantar a suspensão das picapes. Porém, para trazer fica muito caro, pois são bastante pesados. Por isso decidimos criar os modelos por aqui mesmo”, conta Gordo.
Incrível é saber que molas e amortecedores continuam originais, intocados. “Soldamos um ‘braço’ especial, baseado em peças de carros de arrancada, entre a bandeja e o quadro. Apenas a carroceria subiu”, explica o especialista. Com a cabine “afastada” da suspensão, os aeroquips não alcançavam os freios. Sendo assim, modelos mais compridos entraram em cena! O protetor de cárter também foi substituído e, agora, acompanha o desenho do parachoque dianteiro — ele foi moldado por Bira Kakazu, outro integrante da equipe do Galpão, e dobrado pela Estribex (SP).
RODAS E PNEUS
Com a suspensão no lugar, chega o momento de adicionar um jogo de rodas à altura! Com uma parceria com a fabricante Scorro, a Frontier foi presenteada com o modelo S-169, porém completamente sob medida. O tamanho das redondas, por exemplo, é único, 16″ x 9″ (originalmente, há apenas 16″ x 7″). Outra alteração radical foi o alisamento da face das rodas para a entrada dos beadlocks (da gringa OMF). Esse acessório tem como objetivo parafusar os pneus nas rodas, a fim de os borrachudos jamais escaparem durante uma trilha pesada. Mas, nesse projeto, eles foram acoplados apenas por uma questão de estética. Parafusos de inox e arruelas de alumínio finalizam a montagem desses componentes.
Após muito estudo, a equipe do Galpão optou por utilizar os pneus Yokohama Geolandar A/T-S, nas medidas 315/75. “Queríamos uma picape para rodar tanto no asfalto quanto na terra. Esses pneus cumprem bem as duas funções”, explica Gordo. Todavia, por ser muito alto, é preciso certo cuidado ao entrar em curvas muito rápido — eles dão uma leve dobrada e a sensação de carroceria escorregando lateralmente.
Mas, voltando ao ensaio fotográfico na terra, assim que chegamos ao local João me pediu para subir no topo do morro, parte até então explorada apenas por tratores e pilotos de motocross. Olhei, perguntei se era aquilo mesmo que ele queria, respirei fundo e comecei a escalar a piramba. Como o carro estava na configuração 4×2, com tração apenas nas rodas traseiras, era um verdadeiro show de patinação. Então, virei o botão seletor (no painel) e apelei para a 4×4. Que animal! Bastava engatar primeira, tirar o pé da embreagem e deixar que a picape subisse aquilo sozinha, sem o menor esforço. Cheguei a engatar terceira marcha naquele subidão e… a Frontier sequer reclamou do esforço, tamanho o torque do quatro cilindros 2.5 16V turbodiesel — com o escape de 3″ desenvolvido pela Giba Escapes, a potência ultrapassou os 150 cavalos!
FOSCO SUAVE
Terminado o ensaio, desci do carro e me bateu um sentimento de culpa, visto a sujeira que fiz na carroceria, com terra e barro. Logo pensei: “Se o Bozo vir o que eu fiz ele vai me matar”. Não, não estou falando do palhaço do SBT, mas sim de Adriano “Bozo” Ricardi, o responsável pela pintura maluca da Frontier. Segundo ele, o fosco dela é do tipo soft touch, menos áspera se comparada a uma fosca padrão. Nas duas laterais, faixas personalizadas (essas, brilhantes) cortam a carroceria de uma ponta à outra. Bozo garante que o desenho delas é inspirado no original dos Nissan Skyline Nismo 400R.
Para finalizar, o interior (supervisionado pela empresa Luxo BR) recebeu couro cinza com detalhes laranja. De acordo com Flavio Miotto, dono da Luxo BR, “o desenho dos assentos é feito em uma máquina de costura digital, programada como uma CNC”. Como você pode perceber, a arte costurada faz alusão à banda de rodagem dos pneus da Nissan. Couro também predomina no volante e na manopla de câmbio, sempre com acabamento laranja. Aliás, essa também é a cor dos novos cintos de segurança, feitos sob medida.
O mais engraçado de tudo é saber que a personalização do carro foi uma encomenda da divisão de acessórios da própria Nissan. “Essa Frontier será uma excelente vitrine para a divulgação da nossa linha de acessórios”, afirma Luiz Cunha, engenheiro da montadora e um dos envolvidos nesse projeto. Isso é fato, pois bastou uma voltinha pelas ruas de São Paulo para ela praticamente parar o trânsito!
Reportagem originalmente publicada na edição 105 da revista Fullpower
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