A Nissan se reestrutura para enfrentar os novos desafios impostos pela concorrência chinesa.
É de conhecimento público que os carros chineses estão dominando o mundo, e que fabricantes tradicionais estão sentindo grandes dificuldades com isso.
Eu tento entender o que se passa na cabeça dos consumidores que compram carros chineses ou de marcas que não possuem fábricas no Brasil, que foram embora daqui com a desculpa frágil e ridícula do “Custo Brasil”.
Fabricantes de fora prometem estabelecer produção no Brasil, mas sempre prorrogam os seus planos, e continuam chegando aqui com navios lotados de carros produzidos lá fora. É preciso também ter muito cuidado com estas “futuras fábricas” que vão se instalar aqui, já que algumas marcas gostam de trazer quase tudo pronto, com peças fabricadas lá fora, e só juntar tudo aqui como se fosse um brinquedo da Lego.
O consumidor não percebe que uma fábrica no Brasil gera empregos, ao ter mão de obra local trabalhando em suas unidades, e todo um universo de colaboradores em fábricas que fornecem componentes, uniformes, vigilância, alimentação, treinamento, e uma infinidades de profissionais indiretos. As fábricas que produzem aqui também usam a maior parte de suas peças também feitas aqui, compartilham tecnologia, capacitam profissionais, consomem insumos para as suas fábricas, e movimentam a economia local de uma forma que um mero importador nunca será capaz de fazer. Não é mantendo um “centro de pesquisas” ou uma pista de testes aqui que a empresa mostra compromisso com o nosso país. Não são alguns engenheiros sentados numa mesa ou uma pista vazia que vai alimentar a cadeia produtiva e gerar negócios da amplitude de uma indústria de verdade. Isso é só conversa, e até a imprensa que se diz especializada alimenta tudo isso, divulgado, valorizando e dando espaço para estas marcas que pouco contribuem com o Brasil.
Eu costumo dizer que, se todo mundo for “esperto” e comprar só o importado, em alguns anos não haverá mais compradores, porque a maioria dos brasileiros estará desempregada. Alguns talvez se lembrem quando tínhamos fábricas de lâmpadas no Brasil, da GE, Philips, Osram, Sylvania e tantas outras que nos trouxeram desenvolvimento, tecnologia, empregos, dignidade e respeito pelo cidadão. Hoje compramos lâmpadas importadas que prometer durar 30.000 horas ou mais, mas que todos nós sabemos que na verdade não duram um quarto disso.
O fato é que a globalização mudou o mundo, em alguns pontos para melhor, mas em outros nos trouxe verdadeiros desastres.
A indústria automobilística vem sentindo isso, com empresas em dificuldades, reduzindo qualidade, fechando fábricas, se juntando com empresas de menor respeito técnico e com qualidade duvidosa, e ela vem tentando sobreviver até que algo novo aconteça, talvez uma conscientização do consumidor, que honestamente não me causa tanto otimismo por não acreditar mais no mercado.
A Nissan viu os seus lucros caírem por conta dessa concorrência predatória, perdeu mercados importantes para marcas de menor importância, e assim teve que iniciar uma reestruturação para se adaptar à nova realidade.
Em um primeiro momento, como muitos acompanharam, ela tentou criar um grupo com a Honda e a Mitsubishi para aumentar o poder das marcas e assim formarem o terceiro maio grupo automobilístico do mundo. Já existe uma colaboração entre estas marcas, e as negociações evoluíram bem até certo momento, quando o CEO da Nissan, Makoto Uchida, acabou perdendo força pela dificuldade em unir os acionistas em torno da ideia diante das condições impostas pela Honda. A fusão não deu certo, e a partir daí começou uma forte pressão pela saída de Makoto e de seu staff da direção do grupo.
Ontem, finalmente, Makoto pediu demissão, pressionado pelo conselho de investidores, que será substituído por Ivan Espinosa, que assumirá os cargos de presidente, diretor-executivo e CEO em 1º de abril. Ivan ingressou na Nissan em 2003 no México, e atuou no Sudeste Asiático antes de se tornar diretor para o México e para a América Latina em 2010.
As expectativas agora são de uma retomada do desenvolvimento da marca, com até um possível reinício das negociações com a Honda. O otimismo é grande, já que Ivan é tido como um executivo mais jovem, mais visionário e com boas ideias, de muita competência e grande poder de negociação.
Como o mercado “sentiu” essa mudança?
Na primeira negociação da bolsa de valores do Japão, as ações da Nissan tiveram uma alta de 0,61%, sinalizando um otimismo com a mudança.
É importante mencionar que, apesar das ações da Nissan terem tido um resultado acumulado negativo nos últimos 12 meses de -7,03%, nos últimos 6 meses houve uma mudança importante para um resultado acumulado positivo de 13,05%, e isso é muito bom.
A Ford teve uma queda de -7,06% nos últimos 6 meses, o oposto do crescimento da Nissan. A GM acumula perdas de -13,32% no último ano. A Toyota caiu -7,72% no período, enquanto o grupo Stellantis, que reúne Fiat, Citroen, RAM, Jeep e outras marcas despencou -10,67%.
Podemos perceber que a Nissan já dá sinais de uma recuperação de valor e de mercado, que pode ser maior agora com estas mudanças.
E como está a Nissan no Brasil?
Este cenário tem favorecido muito a Nissan brasileira, que tem iniciado investimentos de 2,8 bilhões de reais na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro. Com esse investimento, já temos a chegada do novo Kicks em breve nas lojas, produzido aqui no Brasil e com previsões de exportação para 20 países. Outro modelo deverá sair da fábrica brasileira em breve.
A Nissan está vivendo um grande crescimento de vendas de seus carros. A Nissan Frontier cresceu muito nos últimos meses mesmo diante dessa turbulência provocada pelos “pessimistas” de plantão. O Kicks também experimenta um crescimento, com grande sucesso de vendas mesmo com a chegada eminente do novo modelo.
A Nissan vendeu 12.451 carros nestes dois primeiros meses do ano, e isso coloca o Brasil numa posição bem privilegiada a frente de outras marcas como a Ford, Chery, Citroen, Mitsubishi, Peugeot e tantas outras. Se fôssemos considerar tamanho de marcado e unidades vendidas, teríamos muitas marcas em situação muito mais delicada no Brasil.
Podemos esperar muitas novidades, e tenho a certeza que serão bem positivas, apesar do negativismo dessa nossa “imprensa especializada”, mas esta nunca acerta nada mesmo…
Seja o primeiro a comentar