Garantia de 10 anos da Hilux… é verdade isso?

Se você deixar a picape mais guardada do que em uso, pode ser que algum dia consiga usar essa garantia.

Muitas vezes os fabricantes de qualquer linha de produtos enaltecem algumas “vantagens incríveis” de seus produtos que na verdade não oferecem exatamente o que eles dizem. São atrativos utilizados como argumentos de vendas com pouca vantagem real ao consumidor, quando ainda não oferecem nenhuma vantagem de fato, ou pior, acabam sendo algo até negativo para o consumidor.
Recentemente, a Toyota anunciou a oferta de 10 anos de garantia para a Hilux, mas, será que esse benefício realmente vale a pena?

Os 10 anos de garantia da Toyota não parecem ter sido criados como uma vantagem ao comprador do modelo, mas na verdade segue uma campanha da marca que tem como objetivo balancear as longas garantias (até enganosas) oferecidas por algumas marcas chinesas:

https://www.uol.com.br/carros/colunas/paula-gama/2024/11/05/toyota-vai-estender-garantia-pra-10-anos-pra-driblar-a-concorrencia-chinesa.htm

Resolvi conhecer melhor como funciona essa garantia, pois a propaganda é bastante superficial, e esconde detalhes importantes que podem levar o consumidor a acreditar numa vantagem que pode lhe causar um resultado contrário ao desejado.
Como o fabricante anuncia a nova garantia de 10 anos? Vejamos na imagem extraída de seu próprio site:

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Observe que aqui já notamos um detalhe importante… a garantia não é de 10 anos, mas de “até” 10 anos. O que isso quer dizer?
Foi exatamente isso que me chamou a atenção, e fui verificar com mais detalhes como funciona essa nova “modalidade” de garantia. Comecei visitando um documento chamado “Termos e Condições da Extensão da Garantia TOYOTA 10 HILUX e SW4”, publicado no próprio site da Toyota: https://www.toyota.com.br/termos-e-condicoes-hilux-sw4
Observem que a propaganda da oferta não nos remete a estas condições, que só são referenciadas no rodapé da página que apresenta o modelo: https://www.toyota.com.br/modelos/hilux-cabine-dupla

O que diz o documento?

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Podemos observar aqui que a Toyota se refere à uma garantia “Inicial”, que é na verdade a garantia básica que ela já oferecia antes, de 5 anos sem limite de quilometragem para uso particular, e com limite de 100.000 km para uso comercial (automático para CNPJ e agricultores).
Aqui já podemos concluir que a garantia básica não mudou, não se trata de uma nova garantia com 10 anos de extensão, continua igual e até inferior a da Frontier, por exemplo, que oferece 6 anos sem limite de quilometragem.

O que a Toyota fez então?
A resposta está aqui:

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Aqui já percebemos que existem limitações dessa oferta, a começar pelo seu formato de extensão, ou seja, não se trata de uma nova garantia com prazo maior, nem de uma continuação da garantia “Inicial”, que a Toyota ainda chama de “Cobertura básica” (logo vamos entender o porquê disso).
Podemos observar já de início que essa nova garantia depende de uma “ativação” do cliente, ou seja, de sua manifestação de interesse. Mas, quem não se interessaria no dobro da sua garantia “básica”? Porque o cliente teria que “concordar” ou decidir adquirir tão “importante benefício”?
Podemos perceber, também, que não ouve um acréscimo de mais 5 anos de garantia, mas sim de inicialmente “mais 12 (doze) meses”. Isso corresponde a somente mais um ano, ou seja, um total de 6 (seis) anos. Mas, isso ainda não termina aqui, pois podemos ver que, ainda assim, estes 12 meses está limitado a um uso de no máximo 10.000 km, já que, conforme demonstrado no documento, se esta quilometragem for realizada em apenas um mês, a extensão da garantia de mais 12 meses se torna na realidade um acréscimo de apenas mais um mês.
Aqui já começamos a entender o porquê daquele “até” descrito na propaganda.

E continua:

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A Toyota informa que esta cobertura “adicional” é renovável pelo mesmo prazo e quilometragem, até o “limite” máximo de mais 5 anos. Ou seja, o comprador terá que renovar essa garantia adicional a cada 12 meses (teoricamente), sempre com um prazo individual que “PODE” chegar a 12 meses, e sempre limitado a mais 10.000 km.
Fácil perceber aqui que, se o comprador rodar 50.000 km em seis meses, por exemplo, a garantia adicional de 5 anos se tornará uma garantia adicional de apenas 5 meses na realidade, ou menos se ele rodar ainda mais. Explicado aqui porque a “extensão da garantia” é de etapas de 12 meses.

Mas, ainda tem mais, e é o que mais preocupa:

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A Toyota informa que essa garantia adicional é limitada a 200.000 km para uso particular ou 100.000 km para uso comercial.
Eu quis acreditar que esse limite de quilometragem seria adicional ao limite inicial, ou seja, seria relativo a extensão apenas, já que o documento inicia o parágrafo dizendo “Esta cobertura adicional”, ou seja, leva a entender (propositalmente ou não) que todo o enunciado do parágrafo se refere a oferta inicial apenas. Mas, em seguida, a Toyota cria um novo texto em que diz:

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Aqui a Toyota juntou a cobertura inicial com a básica, tudo num mesmo pacote para definir novamente que o limite máximo da garantia passa a ser de 200.000 km para uso particular, e 100.000 km para uso comercial, ou, eventualmente, de 10 anos, o que ocorrer primeiro. Perceba que ela condicionou o período de 10 anos à quilometragem do veículo, mas é aqui que surge algo bem curioso… a garantia inicial para uso particular que era ilimitada passou a ser limitada em 200.000 km com a extensão da garantia, ou seja, na verdade não se trata de uma simples extensão, mas de uma reforma da condição inicial antes conquistada, ela na verdade altera o contrato inicial. No caso de uso comercial, o limite é de 100.000 km.

Percebam que, além de ter havido uma alteração da quilometragem para uso particular, limitando o uso máximo, se manteve a quilometragem para uso comercial, ou seja, é uma “extensão” que na verdade não abrange uma vantagem completa de mais 5 anos, mas reforma e limita os seus benefícios.

Preocupada com um entendimento mais “favorável” do consumidor, a Toyota ainda faz questão de reforçar essas condições, acrescentando que:

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Mas, observe agora que, no texto acima, que se encontra sob o título de “Condições Gerais”, a Toyota não separa uso particular de uso comercial, o que poderia levar o consumidor a erro. Temos uma falha contextual importante aqui.

Para evitar qualquer má interpretação da minha parte, eu entrei em contato com o Chat da Toyota, e obtive respostas compatíveis com o meu entendimento. O Chat foi registrado e guardado para qualquer necessidade futura.

As conclusões que podemos tirar dessa oferta de extensão de garantia, em resumo, são as seguintes:

1.  Ela substitui a garantia de 5 anos sem limite de quilometragem para o uso particular por outra de “até” 10 anos com limite de 200.000 km, o que é bem estranho, pois se conclui que no primeiro caso você pode rodar, por exemplo, 500.000 km em cinco anos que ainda terá o veículo coberto pela garantia, mas se optar pela garantia de 10 anos, não poderá passar de 200.000 km. A sensação que fica é que o carro se deteriora mais com o tempo, independente do seu uso, ou a Toyota não confia tanto assim no seu produto.

2. Para uso comercial, o limite é de 100.000 km, tanto nos 5 anos da garantia básica, como na opção por 10 anos. Nada mudou em relação ao uso de fato.

3. Como particular, o proprietário não poderá rodar mais do que 150.000 km em cinco anos para experimentar todo o benefício de mais 5 anos de garantia no limite de 10.000 km por ano. Ou seja, não poderá ultrapassar uma média de 30.000 km por ano.

4. Em uso comercial, a média terá que ser de 10.000 km por ano.

No meu entendimento, estes limites são tão baixos que muitos poucos conseguirão ter acesso pleno a essa garantia adicional, se conseguir sequer ter algum acesso. É difícil acreditar que alguém compre uma picape para uso em trabalho e rode apenas 10.000 km por ano com ela, o que daria 833 km por mês. Eu rodo mais do que isso por semana apenas indo e voltando ao escritório.

Para não ficar no “achismo”, eu estive numa concessionária Toyota, próximo de onde trabalho, cheguei a questionar a vendedora comentando que essa garantia não era nada animadora, pelo contrário, era pior pra mim do que a garantia básica. A vendedora deu com os ombros e disse apenas “É”, sem tentar qualquer argumentação, demonstrando concordar comigo (isso foi registrado).
Posteriormente, eu indaguei a ela, por curiosidade, qual a média normal de uso de uma picape de uso particular, e ela respondeu que “normalmente quem compra uma picape dessa e paga mais de 340 mil reais, não compra para deixar na garagem, é gente que faz uso misto ou viaja muito atingindo fácil uns 40 ou 50 mil km por ano”.
Perguntei do uso comercial, e ela respondeu que picapes para uso comercial rodam muito mais, algumas até 100.000 km num ano.

No meu caso, e na grande maioria (ou quase totalidade) dos usuários, uma garantia como a da Frontier com 6 (seis) anos sem limite de quilometragem me parece bem mais interessante que outra de 10 (dez) anos com um limite de 200.000 km.

Eu entendo que uma garantia deveria ser condicionada ao uso, é isso o que o consumidor de fato quer. A Nissan aumentou a garantia de 3 anos da Frontier para 6 anos, para uso particular, mantendo a quilometragem ilimitada, ou seja, você pode rodar mais e ainda estar coberto pela garantia, e não ver a sua garantia inicial diminuir pelo maior uso. Essa postura da Nissan não só gera um grande benefício e uma segurança maior para o comprador, mas também demonstra a confiança da marca no seu produto.

Em meu entender, a garantia de 10 (dez) anos da Toyota é mais uma jogada de marketing do que um benefício de fato, até levando-se em conta que todas as revisões devem ser feitas em concessionárias para que o benefício seja obtido, e sabemos o quanto as concessionárias cobram caro as revisões a partir de 50.000 km ou 60.000 km. Também é importante mencionar que o preço do modelo, que há muito tempo não sofre mudanças importantes, é bastante alto, podendo cobrir exceções.
Cada um pode se identificar como quiser no seu perfil de uso, mas eu acredito que a grande maioria vai concordar comigo que essa garantia não é nenhuma vantagem para o uso que se faz de uma caminhonete.

Em resumo, aumentou o tempo, mas em compensação reduziu ou manteve a mesma rodagem (o uso do veículo na verdade):

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Outra opinião sobre o assunto:

@ayslonmanhani Toyota da 10 anos de garantia??? #toyota #hilux #gtrace ♬ som original – Ayslon Manhani

 

Evidência da conversa com o Chat da Toyota:

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4 Comentários

  1. Isso foi uma piada de mau gosto da Tombota. Substituir uma garantia de quilometragem ilimitada de 5 anos e oferecer uma de 10 anos com limite de 200 mil km causa uma falsa impressão de confiança na caminhonete, mas na prática representa o contrário. Como foi dito no artigo um carro dá problemas com o uso, não parado. Qualquer caminhonete hoje roda fácil 200 mil km sem incomodar. Com a obrigação de fazer todas as revisões em concessionária e pelos preços altos dessas revisõs é óbvio que já embutiram no preço os custos de eventuais casos que fujam a regra.
    Deveriam ter se preocupado em resolver os problemas de falta de segurança e conforto da caminhonete.

  2. Eu não entendi nada. Uma extensão de garantia que não estende a garantia, só reduz? Caminhonete foi feita para usar, o que a Toyota está dizendo é, não use tanto que te dou mais garantia. Uma piada para os brasileiros trouxas que aceitam tudo.

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