Esclarecendo essa questão de uma vez por todas. Saiba porque as pastilhas gastam mais rápido hoje.
Por: Iron Man
É comum assistirmos discussões acerca da pouca durabilidade das atuais pastilhas de freio, utilizadas no sistema de disco (não tambor).
Muitas vezes, por desconhecimento, os proprietários atribuem essa pouca durabilidade à baixa qualidade das pastilhas ou erros de projeto, tecendo críticas ao modelo que possui.
Isso não é característica somente da Nova Frontier, mas vemos reclamações idênticas em grupos de discussão da Ranger, da s10, da Jeep (Renegade e Compass principalmente) e praticamente todos os modelos.
Se no passado pastilhas chegavam a durar até mais de 100.000km dependendo o uso, hoje chegam no máximo a 50/60.000 em uso favorável, e em alguns casos duram em média 20/30.000km, que é hoje a estimativa do próprio fabricante para a vida útil desse componente.
Mas, porque a durabilidade das pastilhas caiu tanto nos últimos anos? É o que veremos aqui.
A fibra de asbesto, mais conhecida no Brasil simplesmente por amianto, é um material de origem mineral, e apresenta características interessantes, entre elas: a resistência a altas temperaturas, boa qualidade isolante, flexibilidade, durabilidade, incombustibilidade e resistência ao ataque de ácidos, e, principalmente, baixo custo.
O material foi muito utilizado no Brasil na fabricação de caixas de água, telhas e pastilhas de freio de veículos, mas teve sua utilização proibida em mais de 50 países por ser um material altamente cancerígeno. Isso ocorre porque o corpo humano não consegue expelir as partículas de amianto, absorvendo o material que fica impregnado no organismo.
Acredita-se que, ainda hoje, mais de 100 mil pessoas morrem no mundo por conta de contaminação de amianto.
Muito se discutiu sobre o assunto no Brasil, onde fabricantes alegavam que as partículas de amianto só eram perigosas na produção de componentes, e que depois de compactado, não haveria mais desprendimento de partículas, e que o uso de proteção individual na indústria afastaria esse risco.
Essa discussão durou muitos anos no Brasil, fez com que fabricantes de telhas e caixas de água mudassem o nome do produto de “amianto” para “fibro cimento”, e a indústria continuou relutante em abandonar o material, principalmente pelo seu baixo custo.
Em novembro de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu definitivamente a utilização do amianto no Brasil, colocando fim a essa longa discussão.
No campo automobilístico, que é o que nos interessa aqui, houve uma grande resistência quanto a abolição do produto aqui no Brasil, com fabricantes argumentando grandes estoques do material e utilização de ligas de baixa quantidade do material em pastilhas de freio (o que não era verdade), mas o fato é que a sua utilização está proibida definitivamente, e a insistência em seu uso é crime.
Mesmo o argumento do “componente acabado”, no caso da pastilha de freio, acabou derrubado, pois há o desgaste natural do material durante o uso, que se transforma em pó e é respirado no ar. Além disso, na lavagem dos veículos, o material desprendido impregnado nas rodas e outros componentes do carro acabava sendo levado para a rede de aproveitamento de água, portanto, a sua proibição em sistemas de freio foi acertada.
Diante disso, os fabricantes tiveram que buscar novos materiais para a fabricação das pastilhas, e uma consequência disso foi uma evolução tecnológica do componente. A nova formulação utilizada hoje nas pastilhas oferece uma frenagem mais suave e bem mais eficiente. Além disso, o material se tornou mais “macio”, causando menor desgaste dos discos de freio e evitando a ocorrência da fadiga térmica, que ocorre quando o freio é acionado continuamente, por exemplo numa longa descida, e ele falha pelo excesso de calor produzido na pastilha.
Se antes a cada troca de pastilhas, aos 70.000km, por exemplo, demandava a substituição dos discos (o que muita gente não fazia optando pelo arriscado “passe” no disco), hoje os discos, que são componentes mais caros que as pastilhas, podem durar até 150.000km.
A frenagem se tornou muito mais eficiente e segura, e houve uma redução no risco de falhas por fadiga térmica, tudo isso somado ao afastamento do risco à saúde, que é o mais importante.
Porém, a mudança no componente trouxe uma consequência, o seu desgaste mais rápido. Por ser um material mais macio, mesmo com todas as suas grandes vantagens, ele se desgasta mais rápido.
Os fabricantes especificam uma vida útil de 20.000km minima, mas essa durabilidade pode variar muito.
Quem usa o veículo em estradas e faz pouco uso de freios (ou o seu uso inteligente), a durabilidade pode chegar a mais de 50.000km. Conheço casos de pastilhas modernas que atingiram 70.000km.
Porém, em uso muito severo e em veículos com câmbio automático, sua durabilidade não deve passar dos 20.000km.
Há relatos de pastilhas com durabilidade de menos de 10.000km. Isso é fato.
A maior facilidade de desgaste da pastilha expôs um outro problema bastante comum: muitos motoristas não sabem usar o freio.
Há um vício comum, muitas vezes nem percebido pelo motorista, de dirigir com o pé levemente apoiado no pedal do freio. A atual tecnologia dos freios atualmente tornou seu acionamento muito leve, e um leve encosto no pedal provoca a patinação das pastilhas, mesmo sem que o motorista perceba.
Além disso, alguns motoristas dirigem de forma imprópria, usando pouco o freio motor, acelerando e freando em seguida, não antecipando a redução de velocidade do fluxo de veículos, e usando de forma exagerada o sistema. Podemos ver nas estradas como a luz de freio de alguns veículos acendem de forma exagerada demonstrando a inabilidade do condutor.
É óbvio que isso vai provocar um desgaste mais rápido das pastilhas.
Muitas vezes leio nos grupos de discussão que as pastilhas duraram 10.000km, ou 20.000km, tendo sido substituídas nas respectivas revisões. Outro erro por conta da falta de conhecimento no assunto.
Quando o mecânico faz a avaliação do conjunto, muitas vezes conclui que, mantida a mesma forma de condução, as pastilhas poderiam suportar mais 10.000km, ou seja, até a próxima revisão. Mas como o mecânico pode ter a certeza de que a forma de condução mantida até aquele momento será a mesma nos próximos 10.000km? Desta forma, por precaução, é sugerida a sua troca, o que popularmente se diz que as pastilhas foram “condenadas”. Isso não é verdade. É possível que as pastilhas pudessem durar muito mais do que o excesso de precaução aponta.
Eu já vi casos de motoristas chegarem à concessionária para revisão de 10.000km com pastilhas com 50% de desgaste. Com uma orientação de melhor utilização dos freios e a correção de alguns vícios de direção, os outros 50% das pastilhas duraram mais 30.000km !!!
E isso é bastante comum.
Essa situação criou um efeito de terror entre os proprietários, em nosso caso específico, da Nissan Frontier.
Em grupos de discussão, o assunto é tratado de uma forma onde prevalece a falta de conhecimento do assunto, com alguns proprietários aterrorizando outros donos de Frontier baseados na sua infeliz e equivocada experiência.
A média de duração das pastilhas da Frontier, em uso misto e mais típica de seu uso, tem sido de 30.000 a 40.000km. Em trabalho mais pesado, ela dura em torno de 20.000 (até 30.000km dependendo da habilidade do condutor), mas isso constantemente carregada.
Se em uso normal o desgaste real (não a troca por precaução) tem provocado desgaste prematuro, com menos de 30.000 ou 40.000km, há algo certamente de errado na utilização dos freios, normalmente a sua má utilização por vícios errados de condução.
Também vejo absurdos do tipo… “O outro modelo que tive durou 80.000km” ou até bem mais.
A mudança na composição das pastilhas é recente. Muitos fabricantes se utilizaram de subterfúgios para atrasar essa mudança, e é bem provável que o “outro modelo” que a pessoa se refere ainda utilizava a pastilha “assassina”.
Outros alegam que trocou as pastilhas originais com 20.000km, mas compraram um modelo paralelo, mais “baratinho”, na “lojinha da esquina” que já está durando 50.000km. É óbvio que a loja ainda tinha estoque do modelo antigo, ou o fabricante usou uma composição mais “dura”, que pode provocar fadigas térmicas, falhas e desgastes acentuados dos discos de freio, ou pior que isso, podem se quebrar, como temos visto na oficina.
Outra “solução” encontrada por alguns proprietários para tentar burlar esta situação é a utilização de pastilhas cerâmicas.
O mercado paralelo agradece a falta de conhecimento dos consumidores.
Apesar da fama desse modelo, ele não é mais caro que a pastilha convencional, mas com a promessa de ser melhor, comerciantes praticam margens de lucro mais generosas.
Sendo assim, se as pastilhas cerâmicas não são mais caras e duram mais, porque os fabricantes já não adotaram esse modelo em suas caminhonetes?
As razões são simples. A cerâmica é um material mais duro, e provoca um acentuado desgaste dos discos. Além disso, para seu uso correto, ela requer também discos cerâmicos, e ainda o sistema de freios exige uma calibração diferente de projeto.
Pastilhas e discos cerâmicos são usados em veículos projetados para essa tecnologia, normalmente veículos esportivos, mas não são adequados para substituir as pastilhas convencionais. Em alguns casos, os freios podem até falhar, ou ocorrer a quebra das pastilhas.
Seu uso em sistemas convencionais não é de forma alguma recomendado.
Diante da ignorância específica de leigos sobre esse assunto e de comentários equivocados, proprietários de Frontier acabam acreditando que as pastilhas originais são ruins e que os modelos em cerâmica são mais eficientes e duráveis.
Mas, a coisa não é tão simples assim, e requer maior cuidado em seu entendimento.
O modelo Frontier mexicano utilizava pastilhas com composição mais dura, e esses componentes vieram para o Brasil como reposição original. O modelo argentino já adota a nova formulação. A própria Nissan emitiu um boletim técnico sugerindo a utilização das pastilhas do modelo mexicano nas unidades argentinas quando o proprietário fizer um uso muito severo dos freios e demonstrar muito incômodo com isso (reclamar demais… em outras palavras).
Mas, a recomendação técnica é de que se utilize o modelo mais novo e se tente corrigir hábitos prejudiciais que provocam desgaste mais rápido do componente. Isso aumenta a segurança do veículo e a longo prazo evita custos de substituição de discos de freio.
Pelo seu peso e sua potência, as pastilhas de freio da Frontier apresentam boa durabilidade. Modelos concorrentes tem apresentado menor tempo de vida útil sob mesmas condições de uso. Mesmo veículos pequenos e leves, como a VW Saveiro, o Jeep Renegade e até o Renault Kwid tem relatos de duração de pastilhas que não alcançaram sequer os 20.000km, e, curiosamente, sua troca é mais cara que a da Frontier.
A combinação do material de atrito mais “mole” da pastilha e do câmbio automático, muito mais comum hoje, vai provocar um desgaste mais rápido das pastilhas, e isso deve ser encarado como algo normal, não como uma falha de projeto ou defeito do componente.
Portanto, fica a recomendação de manter as pastilhas mais modernas e originais de sua Frontier, evitar soluções “mágicas” e experiências arriscadas num sistema de segurança como esse de freios, e buscar melhorar a forma de condução do veículo para eliminar vícios de direção que reduzam o desgaste dos componentes, entre eles:
a) não frear a todo momento e de forma desnecessária;
b) antecipar a diminuição de velocidade à frente reduzindo a aceleração e deixando a inércia e o freio motor reduzirem naturalmente a velocidade do veículo, não deixando para frear em cima do veículo mais lento ou parado à sua frente;
c) não descansar o pé sobre o pedal de freio (muita gente nem imagina que comete esse erro frequentemente);
d) frear só o necessário, evitando freadas “evitáveis”.
Com estas pequenas providências, a durabilidade das pastilhas pode aumentar em algumas dezenas de milhares de km, acredite. Observamos isso com frequência nas oficinas, e com relatos até de redução significativa de combustível apenas com essas práticas. Em recente situação, um proprietário de Frontier relatou um aumento de sua média de consumo de 10,5 para 12km/l quando começou a observar essas orientações.
Espero ter ajudado mais uma vez.
Sou consultor técnico e estou impedido de me identificar, por isso uso o pseudônimo de Iron Man, um personagem dos quadrinhos.
Mas atuo muitos anos na área automobilística, e tenho prazer em poder compartilhar as minhas experiências, me colocando à disposição para dúvidas.
Agradeço ao site pelo espaço cedido.
Vou publicar outros temas interessantes sobre situações que vejo no dia a dia, e espero que possam ajudar aos proprietários de veículos, principalmente da Frontier.
Alguns proprietários tem usado pastilhas de cerâmica. É preciso cuidado porque ela tem que ser usada com disco de cerâmica também.
E além disso a situação só piora, porque a pastilha de cerâmica come o disco rápido, e aí o que economiza na pastilha gasta muito mais depois na troca dos discos.