Qual é a polêmica sobre o ACC? E como fica a Nissan Frontier nessa situação?
O que é o ACC?
O Controle de Cruzeiro, ou Controle de Velocidade (Cruise Control), conhecido erroneamente como “Piloto Automático”, é um recurso que mantém o veículo em uma velocidade constante programada pelo motorista, ajustando automaticamente a aceleração do veículo para manter a sua velocidade constante em subidas e descidas.
Desta forma, se programarmos o controle para manter a velocidade de 100 km/h, esta será a velocidade aproximada que o veículo irá manter, dependendo de algumas circunstâncias como, por exemplo, o fato do veículo ter ou não câmbio automático, já que numa subida o controle de cruzeiro teria dificuldades para manter a velocidade se não puder contar com uma marcha mais reduzida.
Este não é um recurso novo. Ele foi inventado em 1.948 pelo Engenheiro Ralph Teetor, e apareceu pela primeira vez no Chrysler Imperial de 1.958, abaixo.
Mais tarde, em 1990, William Chundrlik and Pamela Labuhn inventaram o ACC, Autonomous Cruise Control, mais conhecido hoje por aqui como Controle de Cruzeiro Adaptativo. O sistema foi patenteado pela General Motors em 1991, e acabou vindo a equipar muitos veículos de todas as marcas até os dias atuais.
O ACC não apenas mantém uma velocidade constante, mas também pode ajustar essa velocidade pelo veículo que vai à sua frente, acelerando até o limite selecionado ou reduzindo a velocidade se o veículo da frente também o fizer.
Segurança ou conforto?
Todo dispositivo que reduz os riscos de acidentes se encaixa no grupo de dispositivos de segurança, mas este é o caso do ACC?
O controle automático de velocidade de cruzeiro original não foi inventado para ser um dispositivo de segurança, mas sim de conforto, permitindo que o veículo mantenha uma velocidade constante sem a intervenção, ou com pouca intervenção do motorista, diminuindo a sua fadiga e desatenção à velocidade. Portanto, originalmente, o recurso não teve como objetivo agir no sentido de se evitar acidentes.
O ACC aprimorou o controle de cruzeiro original, ao possibilitar o ajuste automático da velocidade adaptando-a conforme a velocidade do veículo que vai à frente. A intenção não era aumentar a segurança, mas o conforto, evitando que o motorista tivesse que ficar atento ao que se passava na frente, lhe proporcionando um relaxamento maior.
Portanto, aqui temos a primeira observação importante para o desenvolvimento deste artigo: o ACC não é um dispositivo de segurança, mas sim de conforto, aumentando o relaxamento do motorista e exigindo menos de sua atenção e interferência.
Alguém até poderia argumentar que o ACC evitaria uma colisão na traseira do veículo que vai à frente caso aquele reduza a velocidade, mas para isso existe o sistema de frenagem automática anticolisão, este sim criado para aumentar a segurança contra acidentes sempre que um objeto se posiciona à frente numa distância considerada insegura.
Perceba que o ACC volta a acelerar o veículo quando a velocidade do carro que segue a frente aumenta, e isso não é uma ação de segurança, mas de “condução autônoma”, lembrando que a condução autônoma recebe uma abordagem muito maior em função dos riscos envolvidos nesse processo.
Agora, convenhamos, é uma obrigação do motorista se manter atento na estrada, mesmo com o ACC acionado, afinal, não se trata ainda de um veículo autônomo inteligente preparado para rodar com a mínima atenção do motorista, pelo contrário, o ACC não afasta qualquer necessidade do condutor se manter atento ou ter que assumir o controle da condução.
O ACC aumenta os riscos de acidentes?
Há muitos anos muitos estudos têm sido feitos para responder a essa pergunta, e a resposta não é das mais animadoras. O ACC também aumenta os riscos de acidentes de trânsito.
Muitos estudos foram feitas em diversos países, e a conclusão que se chegou é que em muitos casos houve um aumento do número de acidentes em razão do uso do ACC.
Estudo conduzido pelo IIHS (Insurance Institute for Highway Safety) nos EUA, concluiu que:
“O uso da tecnologia de controle de cruzeiro adaptativo coloca os motoristas em maior risco de acidentes de trânsito devido ao aumento da probabilidade de excesso de velocidade”
Quem quiser conhecer mais sobre o assunto, deixaremos os links de todas as referências citadas neste artigo ao final do mesmo.
O estudo demonstra que o uso do ACC coloca o motorista em maior risco do que quando ele tem o controle manual da situação. Em 96% das vezes em que o ACC é usado, esse risco aumenta em razão do aumento de velocidade.
O risco é maior em razão da forma como os motoristas usam e ajustam o sistema, mas também por razões intrínsecas, já que o sistema vai manter a velocidade pelo veículo da frente, e não por condições da rodovia onde alguns trechos podem não ser mais adequados para a velocidade mantida e, como já comentamos no começo desse artigo, o controle de cruzeiro provoca maior relaxamento e aumenta a desatenção do condutor de forma natural e até involuntária, além de reduzir muito a concentração do motorista.
No momento em que o ACC assume a decisão de controlar a velocidade continuamente, tendo como referência o veículo que vai a frente, ele está numa forma de condução autônoma, ou semi-autônoma do veículo, fazendo com que o motorista fique desatento, mas o sistema não é assim tão abrangente a ponto de permitir essa forma de condução, como ocorre num veículo verdadeiramente autônomo que dispõe de recursos adicionais para permitir um relaxamento maior e mais seguro do motorista, como assistente de faixa, monitoramento de ponto cego, frenagem de emergência, visão abrangente, leitura de sinalização e muitos outros recursos que devem existir nesse caso, mesmo os recursos auxiliares básicos não são tecnologias amadurecidas para garantir a eficiência total do ACC.
Basta vermos os manuais dos veículos quando dizem que estes recursos “podem auxiliar o motorista numa emergência”, “podem reduzir os acidentes”, “podem diminuir as consequências de um acidente”… sempre “podem”, nunca devem, porque de fato não são totalmente confiáveis.
Ao se decidir por reduzir a velocidade para acompanhar uma redução da velocidade do veículo que vai a sua frente, o ACC pode tirar a opção do motorista de se desviar do veículo trocando de faixa, ou de um objeto que poderia ter provocado a redução da velocidade e que agora pode se estar posicionando à frente do seu carro.
A percepção que o motorista que faz uso do ACC tem é de que a sua segurança foi ampliada, e a sua atenção não é mais exigida como antes. Isso é um erro natural que vem da própria confiança e do relaxamento por conta da sua pouca necessidade de atuação.
O efeito contrário poderia ser experimentado? Sim, seria possível reduzir os riscos de acidente com o uso do ACC, mas o sistema deveria ser ampliado e receber mais recursos de segurança e melhor sistema de detecção. Alguns estudos mostram isso, como aquele feito pela AGH University of Science and Technology, da Polônia.
Reduzir a possibilidade de erros do motorista através de sistemas autônomos é um grande desafio, mas a desatenção e a sensação de relaxamento acabam também afastando reações humanas importantes de um julgamento menos “informatizado e autônomo”, em condições reais e com informações muitas vezes ignoradas pelas limitações naturais desse sistema.
Existem, inclusive, abordagens jurídicas que envolvem uma interpretação mais específica deste sistema, que podem ser conhecidas no site do Sally Morin, onde se afirma que:
“A tecnologia ACC deveria tornar a condução mais segura. Ele é ajustado para calcular cuidadosamente as distâncias de deslocamento e parada enquanto observa os veículos próximos, observa os obstáculos e auxilia o motorista no controle adequado do veículo. Idealmente, ajuda o motorista a manter distâncias seguras de direção e frenagem.
No mundo real, o ACC nem sempre ajuda os motoristas tanto quanto o esperado. As pessoas tendem a ignorar os avisos do ACC, usar o sistema ACC para acelerar intencionalmente e apenas substituir os recursos integrados que promovem uma direção segura.
Além disso, a tecnologia em si não é perfeita. A tecnologia ACC está sempre mudando e vem com falhas e limitações em seus sensores, câmeras térmicas, detectores de movimento e lasers automotivos. Simplesmente não é 100% confiável e as pessoas ainda podem sofrer acidentes com o ACC.”
Este estudo basicamente resume bem a situação, principalmente o último parágrafo onde não coloca o condutor como culpado de sua falha.
O ACC não é uma ideia ruim, mas o seu uso pelo condutor do veículo e as suas limitações podem transformar o recurso na causa de um acidente, que é o contrário do que muitos imaginam que pode acontecer quando utiliza o recurso.
Além das falhas do motorista, as limitações do sistema não são desprezíveis, e podem ser afetadas pela presença de uma motocicleta entre os veículos, uma bicicleta, um animal, ou mesmo veículos com certas características (com reboque, carroceria ou caçamba elevada, superfície refletiva ou molhada, etc.), que muitas vezes não são identificadas pelas limitações do radar, ou veículos que adentram repentinamente entre os dois veículos provocando uma frenagem que poderia ser desnecessária, e ainda capaz de provocar um acidente inesperado com o veículo que vem atrás, ou até mesmo sujeira no sensor do radar que continua mantendo o sistema ativo sem aviso do problema, mas tornando-o incapaz de detectar o veículo à frente, além de muitos outros fatores que poderíamos relacionar aqui.
O manual dos veículos que possuem ACC normalmente (ou sempre) trazem a informação de que o sistema é sujeito a falhas, pode sofrer erros de operação e que, portanto, requer a atenção contínua do motorista, afirmando sempre que o sistema não substitui a atenção e a ação do condutor. Ao destacarem isso, os fabricantes já concordam que o sistema de fato é pouco útil (ou muito limitado) e até mais perigoso, como demonstra os avisos extraídos do manual de um Ford Ranger abaixo.
Perceba como o condutor deve estar pronto para acelerar, frear, desviar, etc…
Já que ele deve ficar pronto para qualquer reação, não é melhor assumir a aceleração? Hoje o pedal do acelerador são eletrônicos, construídos de forma a exigir pouca pressão para movimentá-los, e para mantê-lo na posição escolhida com pressão quase zero, o pé se equilibra confortavelmente sobre ele. Além disso, trocar o pé do pedal do acelerador para o pedal do freio é mais rápido e intuitivo do que deslocá-lo a partir do assoalho. Faça essa experiência.
Óbvio que a frenagem de emergência e outros dispositivos de segurança podem ser afetados também dos mesmo males, mas estes são apenas auxiliares numa situação de iminente colisão, enquanto o ACC é um controle de funcionamento contínuo, não um auxiliar de uma situação de emergência.
Mas, nem tudo são espinhos, algumas vezes o ACC pode reagir de forma a ocupar uma desatenção, uma distração ou uma decisão tardia do motorista. Pode auxiliar na travessia de um trecho sob intensa neblina (apesar de algumas falhas nesta situação), e pode até agir de tal forma a evitar um acidente.
Mas, o recurso de frenagem automático faz a mesma coisa, apenas não retoma a velocidade, o que de certa forma é até desejável já que dá ao motorista a possibilidade de entender e avaliar o motivo da súbita redução de velocidade do veículo que segue à frente, oferecendo opções substitutivas ou complementares.
Talvez seja estranho culpar as limitações e falhas do ACC pela distração do motorista, mas, estamos falando do mundo real, onde o uso de celular, por exemplo, tem provocado recordes em números de acidentes até fatais. Imagine você não precisar se preocupar mais com o acelerador, tem gente que vai transformar o painel do carro numa tela de cinema 🙂
Questões legais
E é justamente nesse ponto onde o comportamento do motorista e as limitações de confiabilidade do ACC podem torná-lo mais perigoso, contrapondo-se aos seus benefícios de conforto, que esbarramos numa outra questão de grande importância, desta vez do lado dos fabricantes, a da responsabilidade civil.
Os sistemas de segurança de frenagem automática, de assistência de faixa, de ponto cego, etc, “podem” evitar ou reduzir as consequências de acidentes no momento em que atuam diante de uma situação de perigo, de emergência e de colisão eminente. Mas, o ACC não tem esta abordagem, ele se configura como uma forma de “condução autônoma”, permanecendo ativo e realizando acelerações e frenagens contínuas, sem intervenções do motorista e em situações normais de tráfego.
A responsabilidade do fabricante aqui é maior, pois o ACC, ao contrário dos recursos de assistência e segurança, não visa proteger o motorista num momento de um possível acidente, mas sim atuar em condições de normalidade. Ele até pode atuar de forma a evitar uma condição de risco, mas o tempo em que se mantém funcionando em uma direção diferente desta é muito maior.
Ao incluir o dispositivo, que não é totalmente confiável, e utilizado-o como recurso de conforto, o fabricante assume o risco de responsabilidade civil pelos acidentes que possam vir a ocorrer.
Freios, por exemplo, podem evitar uma colisão se foram aplicados de forma correta no momento certo, e são absolutamente necessários para promover a parada de um veículo. Mas, um ACC não é um recurso necessário, não está ali para operar numa situação emergencial, e caso venha a ser a causa de um acidente, o fabricante poderá vir a ser responsabilizado pelas consequências do acidente.
Por esta razão, muitos fabricantes estão tirando de disponibilidade o recurso, ou mesmo recomendando que o mesmo seja desabilitado. Óbvio que muitos não se importam, o importante é o argumento de vendas, oferecer o brinquedo novo.
Como fica a Nissan Frontier nesse caso?
A Nissan Frontier dispõe, desde antes do novo modelo lançado aqui em 2017, do controle de velocidade de cruzeiro. O recém modelo 2023 dispõe de recursos adicionais, como o radar, aliás o radar mais abrangente e potente do mercado capaz de detectar os movimentos de até dois veículos à sua frente, enquanto os modelos concorrentes só conseguem alcançar um veículo, quando conseguem.
Tendo um sistema de reconhecimento e de controle considerado o mais avançado na categoria, muitos esperavam que a Frontier recebesse um ACC, mas a Nissan frustrou o mercado a fornecer o ACC desabilitado.
Não há ainda uma previsão quando a Nissan poderá habilitar o sistema, e nem como o fará. Alguns comentários na internet relatam proprietários que conseguiram habilitar o recurso, mas o fizeram por conta própria, sem a interferência das concessionárias ou a aprovação da Nissan, portanto, isentando o fabricante de qualquer responsabilidade.
O ACC do ponto de vista de conforto é interessante, mas o seu benefício faz valer a pena os seus riscos?
Ar condicionado, controle automático dos faróis, teto solar e muitos outros recursos de conforto apresentam um nível de risco extremamente baixo, e nada relacionado diretamente com a condução e a segurança do veículo.
Se até mesmo os vidros automáticos já entraram na lista de discussão de fontes de problemas, por ocasionarem um grande número de acidentes mesmo com proteção anti-esmagamento, por exemplo, e também estão sendo revistos, imagine um dispositivo que decida por você a distância do veículo que segue a frente, e a correção desta distância por meio de sensores e meios ainda não totalmente confiáveis.
Alguém poderia dizer… “mas ele poderia evitar um acidente se o controle de cruzeiro estiver ligado e eu realmente me distrair”. Mas, o controle de assistência de segurança anti-colisão da Frontier, capaz de tomar uma decisão de dois carros à frente, vai evitar a colisão de forma mais eficiente, e ainda alterar o comportamento do veículo com relação a voltar a acelerar depois da causa que provocou a redução de velocidade. Esta decisão caberá ao motorista depois da sua avaliação mais abrangente e cuidadosa da situação, até mesmo em conjunto com os demais recursos como câmera 380°, assistente de faixa, de ponto cego, etc.
O autor deste artigo abandonou o uso do controle de velocidade de cruzeiro há algum tempo, e principalmente agora quando a Frontier recebeu na linha 2023 o controle de limite de velocidade. Você ajusta um limite de velocidade para a rodovia, por exemplo, de 107 km/h que é o máximo permitido numa rodovia com limite de 100 km/h, e continua no controle do veículo sem o risco de ultrapassar a velocidade permitida. Considero hoje o controle de cruzeiro dispensável, até porque os atuais pedais eletrônicos não exigem esforço que cause fadiga, e também com esse novo recurso da Frontier de limitar a velocidade, não se corre mais o risco de ultrapassar a velocidade permitida da via no caso de uma distração.
Vidros automáticos já me pareciam muito perigosos, e em outros carros eu permitia somente ao motorista, já que eu tinha a visão do que estava ocorrendo e não corria o risco de causar prejuízos até fatais a crianças, pequenos animais ou outros.
Claro que o controle automático em todos os vidros da Nissan Frontier é de fácil implementação e provavelmente sem custo, já que deve ser uma mera programação (como era o travamento automático das portas até 2021), e é óbvio que o veículo está mais do que capacitado a receber o ACC, mas, vale mesmo a pena? Esta é a pergunta a se fazer e que talvez a Nissan tenha a sua opinião mais conservadora, principalmente em se tratando de uma caminhonete de mais de 2.000 kg que pode carregar ou rebocar bem mais do que isso. Até a direção elétrica tem sido menos recomendada nestes casos pelos problemas conhecidos que pode sofrer (mesmo motivo de modernos aviões usarem sistemas hidráulicos).
Afinal, não falta à Nissan tecnologia para esse tipo de inclusão (oferecida em carros de passeio), e muito menos trata-se de uma questão de economia, já que ela oferece freio a discos nas quatro rodas, controle de estabilidade inteligente de última geração, suspensão multilink muito segura, barras de reforço estruturais exclusivas, parabrisa com proteção UV, plásticos antichama, câmera 360° e outros recursos de segurança que ainda não estão disponíveis em concorrentes, e que custam muito caro para serem incluídos de forma pioneira e exclusiva, já que as concorrentes não se preocupam muito com segurança de fato, vide a fama de algumas de capotarem com facilidade.
Algumas vezes a argumentação é até ridícula por quem critica a Nissan pelas suas decisões no campo da segurança da sua picape. Num debate que vi no YouTube, um comentário dava conta que a Nissan caprichou na segurança ao lançar os freios a disco nas quatro rodas na linha 2023, mas outro comentário (provavelmente do dono de outro modelo inferior) afirmava que isso era só uma questão de economia para enganar o comprador, já que freio a disco era mais barato que o sistema a tambor.
Sabemos que o freio a disco não é mais barato que o tambor, e além disso o comentário do crítico à mudança só demonstrava desconhecimento, já que a Nissan Frontier possui os dois sistemas atrás, os freios a disco para frenagem normal de condução, controle de estabilidade e ABS, e o freio a tambor para acionamento pelo freio de estacionamento, portanto, o custo do sistema ficou muito maior sim, ao contrário do que pensava (espero que tenha se informado melhor) o tal crítico.
É bom que a Nissan continue investindo em recursos realmente importantes e em ganhos de conforto que façam diferenças sem criar situações de risco, como os bancos Zero Gravidade, as saídas de ar-condicionado exclusivas para os bancos traseiros e até o teto solar (não se preocupe… um meteoro não vai entrar pelo teto solar :-).
Não sabemos qual a decisão que a Nissan vai tomar em relação ao ACC no caso da Frontier, mas temos a certeza que, seja qual for, será a mais acertada pesando os prós e contras.
Referências:
- https://www.researchgate.net/publication/316845080_Evaluating_the_safety_impact_of_adaptive_cruise_control_in_traffic_oscillations_on_freeways
- https://sciendo.com/pdf/10.1515/jok-2017-0035
- https://www.sallymorinlaw.com/car-accidents/does-adaptive-cruise-control-cause-drivers-to-speed/
- https://www.mydenveraccidentlawfirm.com/news-resources/adaptive-cruise-control-is-a-risky-proposition-for-drivers-report-says/
- Manuais dos fabricantes
- Reportagens de outros sites
Nos Estados Unidos, a Frontier tem ACC (lá é conhecido como Intelligent Cruise Control, e está na página de segurança), isso quer dizer que a opinião da Nissan lá é diferente?
O Leaf vendido aqui também tem. A opinião da Nissan é diferentepara o comprador de Leaf?
Exatamente, apesar de estudos feitos também nos Estados Unidos mostrando os riscos de acidentes com esse recurso, ele é amplamente adotado no mercado americano, que tem um perfil bem diferente do nosso. Picape lá é praticamente carro de passeio (algumas até maiores que as nossas mas com menos capacidade de carga).
Mas, é na Europa que existe uma restrição maior hoje no uso do ACC. Outro mercado, outra cultura. E o Brasil é um caso ainda mais atípico, e não só em razão do tipo de utilização feito pelas caminhonetes, mas também por conta de uma legislação ainda mais regional e com interpretações pra lá de duvidosas (aliás isso nunca esteve tão em evidência como hoje).
Como eu mencionei, a Nissan não se pronunciou sobre o bloqueio do ACC, e o que eu apresento aqui é apenas uma análise de fatos (os estudos não são meus) e uma tentativa de aplicá-los de forma mais abrangente ao nosso caso. Inclusive, comentei em um fórum que participo, que acredito até na possibilidade da Nissan vir a habilitar o sistema aqui, já que o mercado exerce muita pressão sobre os fabricantes, e muitas vezes, novamente citando a questão do regionalismo, decisões acabam seguindo fluxos diferentes, e vou dar dois exemplos agora:
1. No mundo inteiro a fraude da emissão de poluentes da Amarok causou indignação do mercado, gerando devoluções do modelo, multas, suspensão de suas vendas, e em muitos casos, até ações judiciais. No Brasil, ninguém se importou com isso e, pelo contrário, alguns consumidores ainda promovem a retirada de válvulas e filtros para redução de poluentes do seu carro, porque aqui economizar em manutenção e “andar mais”, compensa o aumento de mortes pela intoxicação de poluentes.
2. É sabido que uma caminhonete que vende bem aqui tem graves problemas de estabilidade devido ao obsoletismo de seu projeto, o que já lhe rendeu diversos apelidos pejorativos. Reprovada continuamente em testes de segurança neste quesito, ela até sofreu alterações lá fora que nunca chegaram aqui. Mas, o fato dela ser perigosa, ceifar vidas e isso ser de conhecimento geral, não a impede de ser um sucesso de vendas.
O mercado dita as regras, então não duvido nada que a Nissan venha a ceder nesta restrição.
Então, podemos perceber que os mercados são diferentes, e que cada um tem uma característica de consumidor. O americano gosta de direção elétrica, não abre mão disso, aqui todos os fabricantes japoneses, Toyota, Nissan e Mitsubishi, além da VW, Renault, etc… não adotam essa linha, por considerarem que uma direção hidráulica condiz mais com uma picape e com o seu uso e peso. Diga isso para um americano.
É sabido por todos que a Frontier 2023 tem o mais sofisticado, abrangente e eficiente radar da categoria, que também atua na frenagem automática ao captar o movimento à sua frente. É sabido também que o ACC depende da existência desse recurso, ou ele não pode existir sozinho, já que se trata apenas de uma programação da função deste sistema. Portanto, tendo condições plenas de aplicabilidade, maior ainda que suas concorrentes, porque a Nissan ainda não liberou o sistema na Frontier? Economia? Claro que não, isso é o que menos a Nissan tem feito na Frontier com os seus recursos tecnológicos até exclusivos.
Importante lembrar também que a Frontier deixou de ser produzida na Europa, mas é exportada para lá também pela mesma fábrica que produz as unidades que chegam aqui.
Outro detalhe que podemos também incluir é a característica de uma picape, que não é como um carro de passeio. A Frontier pesa mais que um Leaf, tem um centro de gravidade mais alto e um comportamento diferente, não só de reação, mas também de dirigibilidade. Novamente voltando à direção elétrica, temos uma comparação similar… Nissan, Toyota, Volkswagen, Renault, Mitsubishi, etc… todas oferecem carros de passeio com a direção assistida eletricamente, mas rejeitam usar o sistema em caminhonetes alegando que elas não estão adequadas para o uso desta tecnologia, na opinião delas. Então comparar um carro de passeio com uma caminhonete neste caso acaba reforçando a ideia de uma opção do fabricante que, como comentei, não justificou ainda a sua decisão.
Sendo assim, me baseando nestas informações (fatos), nos relatórios (fatos) e nas questões legais (fatos), tentei encontrar uma explicação razoável para responder essa dúvida que também parece te alcançar.
Vamos aguardar e ver como a Nissan vai proceder nesse assunto. Sei que lá fora (e aqui também se cogita fazer) alguns fabricantes estão sugerindo que o proprietário do veículo assine um termo de responsabilidade, onde reconhece que o mau uso de alguns equipamentos autônomos representa risco, que eles não são totalmente eficientes, e que ao autorizar a habilitação dos mesmos o proprietário assume toda a responsabilidade de eventuais consequências de sua utilização. É o que eu, como advogado, recomendaria, mas confesso que mesmo com esses cuidados, a nossa Justiça age, por vezes, de forma muito “misteriosa”…
Abração.
Muito boa abordagem do assunto e feita de forma clara e concisa, mas gostaria de dar a minha opinião para complementar e contribuir, não retocar o que foi dito.
Tive uma Ranger até o ano passado e vendi depois que as concessionárias começaram a fechar e as peças a faltar, e ela tinha o tal do Acc.
Eu desativei eu mesmo, não precisei fazer isso na concessionária. O sistema é realmente falho, e mais me colocou em situações de risco do que me tirou.
Ele falha muito por conta de não conseguir identificar bicicletas e motocicletas, principalmente no trânsito mais intenso.
O maior problema é o motorista brasileiro, essas coisas não funcionam aqui. Não dá pra comparar o motorista americano com o brasileiro, aqui eles te cortam se tiver espaço a sua frente e o Acc não quer nem saber, ele freia mesmo e aí tá feito o estrago.
Tomei muitos sustos com o meu e aprendi que nada substitui a atenção do motorista na direção. Desliguei e pronto.
Não é o sistema que é ruim de todo, mas os motoristas, e logico que o sistema também não é perfeito, mas no Brasil não funciona, esquece.
Parabéns pelo texto.
Quem disse que não tem problemas nos Estados Unidos? Tem sim, tanto que o estudo principal foi feito lá. O colega Carlos está equivocado.